Meus temas são livres e aceito textos de outras pessoas que também queiram compartilhar com o mundo suas idéias sem medo de serem julgadas por isso. Os julgamentos fazem parte indissociável da vida e deixar de se movimentar por temê-los parece besteira – ainda que seja difícil ser assim tão “livre”. Vou tentar dar dicas de boas músicas e livros que me interessem – sugestões são novamente bem-vindas!
Fica, portanto, a esperança de algum leitor. Comentem, reclamem e xinguem minhas visões da vida. Ou não. Mas não deixem de pensar em tudo o que é escrito por aí e deve ser divido.
Hoje, quero falar sobre a culpa.
Problemas, questões, tabus. Tudo isso faz parte da vida e, por mais que nos esforcemos para deixá-los ocultos na obscuridade da consciência, continuam a existir. Enfrentá-los é complexo demais, sem dúvida. Debruçar-se sobre si mesmo e reconhecer falhas morais, físicas ou intelectuais é muito penoso.
Costumamos esconder nossos medos e nossas fraquezas, o que é altamente compreensível. Assim como um animal que não gosta de ser observado ao defecar, não gostamos da exposição em nossos momentos de dúvida e sobressalto das emoções. Por isso, as pessoas choram escondidas nos quartos, nos cantos, ou nos ombros de amigos – ou inimigos! -, com os rostos afundados para que se sintam menos invadidas. E sentir-se invadido é das piores coisas que pode acontecer.
O fato é que por mais que sejamos sinceros em nossas atitudes, sempre haverá no âmago de nossos pensamentos as repreensões, as cobranças, as culpas. E a culpa – como todos já devem ter experimentado – é o mais cruel dos sentimentos. Ela consome nossas decências, definha nossas vontades. Com culpa não se brinca.
E como enfrentá-la? Será que existe uma forma de se eximir, na ordem da pessoalidade, dos remorsos e das imagens que invadem nossas mentes?
Para pensar sobre isso é preciso ter muita honestidade para consigo. É o primeiro passo. Costumo pensar que sempre sabemos quando estamos errados, que sempre sentimos uma queimação ácida no estômago, mesmo que sutil, quando erramos. É claro que podemos errar sem nos dar conta disso, mas o fato é que esse tipo de vacilo é bem menos frequente.
A grande questão é saber equilibrar o peso de nossos atos nas vidas dos outros e em nós mesmos. Muitas vezes sabemos que estamos tomando uma atitude que magoará outros e mascaramos essa sensação com justificativas vazias e artificiais para podermos encarar quem somos à noite, no travesseiro. E tal fato não deixa de ser humano.
Saber viver em sociedade – e essa afirmação pode parecer absurda – não é natural. Assim como o pensamento. Em outras palavras, o ato de pensar e racionalizar é uma criação de nossa mente, que se desenvolveu com o passar do tempo. O homem só se organizou em sociedades para suprir seus desejos mais essenciais: comer e reproduzir - morrer é sempre consequência. A grande beleza do pensamento é poder transformar essa massa disforme e caótica do existência natural em sentido. Ou pelo menos tentar... Mas essa discussão cabe a outro texto.
Todavia, a questão de vivermos com outras pessoas é complexa. Porque não necessariamente é de nossa natureza sermos generosos e pensarmos em como nossas atitudes se refletirão nas vidas alheias. O problema é que existe uma linha invisível, chamada moral, que guia nossas ações. Uma conduta com códigos de comportamento para que possamos coexistir sem o caos, que desespera as pessoas por motivos óbvios.
O caos não tem forma, não tem sentido, não se importa com vida e morte e amor. E isso não entra nas cabeças humanas ( não estou aqui dizendo que eu o compreendo: longe disso!). E você deve estar achando que estou divagando demais – e talvez esteja -, mas tudo isso se liga. A culpa que temos, em geral, só existe por conta dessa conduta criada artificialmente por nossa mente – como todos os nossos outros pensamentos -, que nos adestra sobre como agir. Porém, não podemos pensar em nossas vidas sem esses códigos.
E isso se relaciona diretamente com o fato de sempre termos consciência de nossos erros, da queimação sobre a qual me referi antes. Essa conduta moral é tão intrínseca às nossas formas de viver que está presente em todos os momentos. É por isso que nosso coração por vezes bate forte quando fazemos algo e buscamos rapidamente por uma justificativa que suprima essa pulsação ofegante.
Tudo do que falei aqui se relaciona de uma forma ou outra. A sensação de invasão do cão vigiado em sua intimidade, a conduta coercitiva (mas necessária!) das relações sociais e o desencadeamento do processo de culpa.
Às pessoas tidas como felizes e tranquilas devo estar falando muita merda junta. Afinal, a culpa nunca se abateu em suas mentes, não sentiram o desamparo da culpa. E, realmente, a natureza de nossa existência não é justa e a tentativa de tornar os homens iguais vem se repetindo ao longo da história humana. Algumas pessoas simplesmente nascem mais prendadas que outras do ponto de vista natural.
Contudo, acredito que esses felizardos não sejam diferentes de todos os que sofrem e se medicam com sedativos para entorpecer a mente. Eles somente criaram uma forma de pensar capaz de mascarar suas ansiedades.
É aí que reside a questão. A culpa sempre existirá. Desde o pecado de Adão, a culpa original dos homens, a humanidade tem lutado contra esse confronto psicológico. É a busca pela salvação.
E isso me auxilia a responder a indagação de como enfrentar a culpa. Acredito, após muitos erros e acertos, que a forma mais justa consigo de mesmo de fazer isso é encará-la em sua crueza. Infelizmente, isso dói e pode ser longo e demorado, mas talvez seja a única forma de nos redimirmos de nossas faltas. Afinal, para os outros sempre podemos mentir e ocultar.
Há uma letra de uma música de Vinicius de Morais que ilustra isso: “Mas amar é sofrer/ Mas amar é morrer de dor”. E o amor, por fim, é a ilustração mais justa da vida e de como encarar a culpa.
Fico por aqui e prometo ser menos profundo em outros textos. Se alguém quiser contribuir com este blog, com outros temas, fique à vontade para mandar textos e entrar em contato.
Até a próxima.
Um breve comentário sobre a seguinte passagem:
ResponderExcluir"E isso se relaciona diretamente com o fato de sempre termos consciência de nossos erros, da queimação sobre a qual me referi antes." (parágrafo 11)
Por experiência própria (além de ter base em explicações de psicanalistas e estar cansada de ouvir esse tipo de discussão no meu âmbito familiar), posso dizer que não: nem sempre a gente tem consciência, de fato, dos nossos erros, ou de que a tal queimação no estômago, ou de um simples mal-estar, acontece por conta dessa tal culpa. Nosso inconsciente é tão rico quanto os milhões de pensamentos que construimos a cada instante... ou mais. E nele estão as razões mais escondidas (e achá-las pode levar uma vida toda, se as acharmos!) para tudo que nos faz, de maneira mais profunda ou superficial, sofrer.
A boa notícia é que mesmo a mais profunda depressão pode ser construtiva e nos levar ao autoconhecimento de que precisávamos para crescer pessoalmente; para mudar.
Boa discípula que eu sou da análise (mais uma discussão MUITO presente no meu âmbito familiar, digo: façam-na. Das duas, uma: ou você vai aprender mais sobre si mesmo - do pior defeito à melhor qualidade - e aprender a lidar melhor com seus sentimentos e com suas relações, ou vai descobrir que não tem cu pra olhar pra si de cabeça erguida. E, nesse caso, eu recomendo MAIS análise ainda, hahaha!
E parei, já falei merda demais =p
Ah, não! Parabéns, Lu, pelo ímpeto de escrever, mais uma vez! =) Mandou muito bem.
Beijocas, Ju
Gostei muito!
ResponderExcluirsó nao sei se concordo com o fato de que a "ausencia" de uma moral só pode desaguar em um caos gigantesco..
talvez antes do caos o homem conheça a Liberdade.
Parabens, Luci!
Ah! e Por favor, nao seja "menos profundo" nos proximos textos... Seja muito profundo! Aí está a graça...